As crianças e adolescentes participantes da 6ª
Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente (6ª CNIJMA), em
Luziânia, Goiás, voltaram para seus lares, nesta sexta-feira (10),
depois de vivenciarem cinco dias de debates, gincanas, palestras,
oficinas temáticas e atrações culturais. 

Na bagagem, estão os planos de desenvolver a educação
ambiental em seus territórios e chamar a atenção para a necessidade de
combater a injustiça climática, que, normalmente, atinge
desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis e marginalizadas no
Brasil, com chuvas, secas, calor intenso e inundações.
De Itapemirim, no Espírito Santo, Lara Guimarães Silva (foto) deseja
que os saberes e práticas ancestrais sejam considerados na oferta global
de soluções que resgatem o respeito à natureza e promovam a equidade de
oportunidades. As comunidades tradicionais, segundo a jovem, são as que
mais sofrem com os efeitos das mudanças climáticas, mesmo contribuindo
menos para as alterações do clima.
“As mudanças climáticas são muito ruins porque afetam a
terra, o solo e o ciclo da água. Isso faz a nossa agricultura familiar
desequilibrar”, afirma.
Com 13 anos de idade, Lara foi criada na comunidade de quilombola de Graúna, que, segundo ela, valoriza bastante o clima.
“Com o clima desregulado, a gente perde um pouco das nossas tradições e culturas”, diz a adolescente.
Da Região Norte, Jessyane Cavalcante, com 12 anos de idade, percebe
que a poluição, sobretudo pelo plástico, afeta o município de Mucajaí,
em Roraima. Na conferência nacional, ela defendeu a reciclagem de
embalagens plásticas para ter um território saudável.
“A reutilização de materiais pet mal descartados na nossa vila fariam a diferença para combater a poluição”, defende.
Na realidade da estudante indígena Adryellen Silveira Bertoldo, de 13
anos, os impactos de eventos climáticos são visíveis e prejudicam o
pequeno plantio de alimentos na aldeia onde vive, em Aracruz, no
Espírito Santo.
“O que eu aprendi aqui, vou aplicar lá. Quero dialogar com
minha comunidade e dar ideias para meu professor para fazermos
atividades na escola”, disse.
Em outro bioma, o Cerrado, o jovem Elton Brenner, do 8º ano do ensino
fundamental, aproveitou a última chance de participar da Conferência
Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente como delegado, porque já tem a
idade limite de 14 anos.
O projeto escolar que Elton Brenner trouxe de Goiatuba, em Goiás,
para a conferência, reafirma o compromisso com a sustentabilidade, com o
meio ambiente e de mobilização comunitária. O documento sugere
soluções para problemas urbanos, como mais áreas verdes dentro de
escolas, melhoria das praças das cidades, o reaproveitamento da água, o
plantio de hortas comunitárias e a fiscalização do descarte de resíduos
sólidos.
Elton acredita que eventos como a conferência, criam consciência ambiental desde cedo nos estudantes.
“Quem participa já aprende a importância do meio ambiente,
conhece a reciclagem, conhece uma horta, se aprofunda em alimentação
saudável e até domina como gerenciar uma casa”, avalia.
De outro ponto do estado de Goiás, o jovem delegado da conferência
Kleber Medeiros de Oliveira Júnior, de 13 anos, observou que no trajeto
feito de carro de sua cidade, São Miguel do Araguaia, até o local da
conferência nacional, em Luziânia, a vegetação nativa do Cerrado foi
substituída por extensas plantações de monoculturas.
“Quanto menos árvores tiver, mais vai ter o calor, porque
essas árvores param de produzir o oxigênio, o que vai agravar o efeito
estufa”, sentencia.
Kleber ainda lamenta a poluição do rio da localidade. [FOTO]
“Jogam muito lixo nas ruas, nos esgotos, e pensam que não vai
acontecer nada. Mas o vento traz tudo para os rios, os peixes comem isso
e acabam morrendo”, diz.
Mais experiente
Nas cinco edições anteriores, a conferência infantojuvenil envolveu milhares de pessoas.
A 6ª edição, com o tema Vamos transformar o Brasil com educação e
justiça climática, contabilizou mais 800 participantes, todos
representantes das etapas preparatórias.
Uma das pessoas que acumula a experiência de outras conferências
infantojuvenis pelo meio ambiente e que esteve em Luziânia esta semana é
o cantor e compositor Francisco Gelmo Sousa, de 30 anos de idade. A
primeira conferência da qual participou foi em 2006, aos 11 anos, como
delegado representante de Itapajé, no Ceará.
O artista ainda passou pela experiência como integrante do coletivo
de jovens facilitadores em outras edições da mobilização nacional e como
organizador das etapas estaduais do evento. Nesta 6ª edição da
conferência, na função de educador, ele foi o responsável por cuidar de
jovens cearenses durante a viagem.
“É uma alegria enorme ver como essa conferência transforma a vida da
gente, abre portas e desenha um presente e um futuro para a gente. Essa
ligação com o ambiente sempre foi muito forte para mim”, afirmou.
Conferência transformadora
Outros gestores de educação presentes no evento, representando as
delegações estaduais, apostam justamente no poder de transformação
socioambiental das conferências, tanto na consciência sobre o futuro,
nos hábitos atuais dos participantes jovens, assim como no combate à
desinformação.
É o que destaca a servidora da Secretaria de Educação do Estado do Piauí Luana Batista, responsável pela delegação do estado.
“São projetos com o envolvimento da comunidade escolar que
dão certo. Há uma mudança significativa nas atitudes, nos comportamentos
e valores para melhorar a qualidade de vida do nosso cotidiano”,
acredita.
Luana Batista percebe mudanças nos jovens que vivenciam as
experiências das conferências que tratam de meio ambiente. “Essas
mudanças de atitude tendem a melhorá-los. Até mesmo a fala deles, como
protagonistas juvenis, dentro da sua comunidade escolar, em seu
território”.
O representante da Secretaria de Educação do Estado da Bahia,
professor Alexandre Guimarães, presente pela primeira vez em uma
conferência nacional, aposta no potencial da juventude para melhorar o
planeta Terra.
“Os estudantes de 11 a 14 anos da Bahia foram muito engajados em
todos os projetos desenvolvidos em suas escolas. Isso nos traz o alento
de que essa transição geracional vai acontecer e será com qualidade,
garantindo o futuro desse planeta que a gente tanto ama e quer bem”,
disse.
A mobilização para a conferência alcançou 8.732 escolas em
2.307 municípios e reuniu delegações dos 26 estados e do Distrito
Federal.
Na quarta-feira (8), os representantes dos estudantes do 6º ao 9ª ano
do ensino fundamental de várias partes do Brasil, apresentaram ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministros a Carta Musical Raiz
que Floresce, e entregaram a versão preliminar da Carta Compromisso das
Crianças e Jovens pelo Futuro do Planeta, com o pacto das novas gerações
pela construção de uma sociedade sustentável e solidária.
A versão final da carta será levada pelo governo do Brasil à COP30
[Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima], em Belém, a partir de 10 de novembro, como forma de
reconhecer o protagonismo dos jovens na conscientização e no
enfrentamento às mudanças climáticas.