Imprensa brasileira faz lavagem cerebral sobre eleições pelo mundo
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Uma reportagem recente da TV Globo apontou que 2024 é o ano 
com mais eleições pelo mundo nos últimos tempos. Em alguns países, elas 
serão uma celebração e um termômetro para medir a força da democracia, 
enquanto em outros elas não passam de uma farsa para consolidar regimes 
ditatoriais.

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Não é difícil adivinhar quem é o grande exemplo de eleição 
democrática e quem são os maiores exemplos de farsa ditatorial, segundo a
 Globo… A reportagem mostrava imagens de Joe Biden e de Donald Trump no 
momento em que citava as eleições “democráticas” e imagens de Vladimir 
Putin e Nicolás Maduro quando falava das eleições de fachada.
A cobertura nos principais veículos que formam o monopólio de
 comunicação no Brasil é uníssona: as eleições nos EUA são democráticas e
 as eleições nos países cujos governos são “adversários” dos EUA são 
fraudulentas.
Foi assim que se tratou as eleições presidenciais na Rússia, 
realizadas em março. Embora Putin tenha um apoio real enorme dentro da 
sociedade, que gira em torno dos 87% de votos que recebeu, indicando que
 as urnas foram fiéis à correlação de forças políticas no país, os 
veículos de imprensa brasileiros trataram de acusar Putin de manipular 
as eleições.
Não houve nenhuma manchete positiva nos três grandes jornais 
(Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo) durante o mês de 
março. Em compensação, as negativas representaram cerca do dobro das 
manchetes que poderiam ser consideradas neutras – com muito esforço e 
bondade do analista em relação a esses jornais.
O Globo falou que era uma “eleição de cartas marcadas”, por exemplo. 
Alexei Navalny, um blogueiro treinado e financiado publicamente pela 
CIA, desconhecido pela esmagadora maioria dos russos, foi retratado como
 mártir e símbolo da violência do regime contra seus opositores, com 
grande destaque no noticiário após a sua morte. 
Nada foi dito sobre os 160 mil ataques cibernéticos contra o 
sistema eleitoral russo, a maioria dos quais originados dos Estados 
Unidos e do Reino Unido, conforme denunciaram as autoridades eleitorais 
russas. Por outro lado, há anos existe uma forte campanha na imprensa 
acusando a Rússia de interferir em eleições pelo mundo, principalmente 
nos EUA.
As eleições na Rússia não foram tão atacadas e manipuladas pelo 
noticiário brasileiro, contudo, quanto as venezuelanas. Ainda a ocorrer 
no meio do ano, o pleito presidencial no país vizinho tem sofrido uma 
gigantesca campanha de desestabilização e desprestígio pelos grandes 
jornais do Brasil.
Folha e Estadão copiam um ao outro em manchetes de papagaio como as 
que chamam o governo venezuelano de “ditadura de Maduro”. Unem-se ao 
Globo para espalham uma campanha de intensa desinformação, retratando a 
oposição (que desde a ascensão do chavismo já tentou inúmeros golpes de 
Estado) como democrática e vítima da ditadura, embora a Venezuela tenha 
tido quase 30 eleições e referendos nos governos Hugo Chávez e Nicolás 
Maduro.
Uma  notícia que se espalhou por todos os tentáculos do monopólio 
propagandístico brasileiro – que, por sua vez, é uma extensão do aparato
 de propaganda de Washington – foi a da foto de Maduro repetida várias 
vezes na cédula eleitoral. Os jornais utilizaram o fato para indicar que
 Maduro manipula o voto dos eleitores para que votem nele e não em seus 
opositores. A realidade, contudo, é que na cédula aparecem os candidatos
 apoiados por cada partido, com o nome do partido junto com o seu 
candidato. Como a candidatura de Maduro é apoiada por 13 partidos, sua 
foto aparece 13 vezes, e os outros candidatos também aparecem tantas 
vezes quantos partidos os apoiam.
Todas as notícias sobre o governo e a candidatura Maduro são 
extremamente negativas e mesmo as que um observador benevolente possa 
considerar neutras, na verdade não passam de propagação de estereótipos 
negativos, levando em consideração que a campanha contra a Venezuela 
existe há mais de dez anos com muita força e a maioria dos leitores e 
telespectadores já se acostumou a pensar que o país é uma ditadura onde o
 povo é oprimido pelo regime.
Só se fala da suposta perseguição à oposição, da suposta falta de 
transparência, embora haja 13 candidatos e o Centro Carter (do 
ex-presidente norte-americano Jimmy Carter) considere as eleições 
venezuelanas as mais transparentes do mundo, com verificação dupla: 
eletrônica e impressa. Sobre isso, o monopólio da comunicação se cala. 
Precisa passar a impressão ao público que na Venezuela não existe um 
pingo de democracia e só a derrubada do chavismo fará com que ela 
apareça.
Esse é exatamente o mesmo discurso do governo dos EUA. Afinal de 
contas, a imprensa brasileira não passa de um porta-voz da opinião do 
imperialismo americano. E, como tal, além de mentir sobre as eleições em
 países cujos governos não se dobram à sanha opressora dos EUA, essa 
mesma imprensa louva as eleições americanas.
Nem na TV, nem nos jornais, nem nas rádios, nem nos grandes websites 
há qualquer mínimo questionamento sobre a lisura do processo eleitoral 
americano. Não importa que o país seja uma ditadura bipartidária onde 
democratas e republicanos não passam de dois lados da mesma moeda. Não 
importa que a vontade dos eleitores valha menos do que o resultado dos 
colégios eleitorais (afinal, ao contrário das “ditaduras” russa e 
venezuelana, as eleições “democráticas” nos EUA são indiretas).
Não importa que o dinheiro dos grandes banqueiros, industriais, 
comerciantes e latifundiários seja o maior impulsionador das campanhas, e
 que esses só apoiam os candidatos que lhes jurarem fidelidade e lhes 
prometerem as maiores benesses se for eleito. De fato, quem queira se 
eleger precisa se ajoelhar para esses grandes capitalistas, que na 
verdade controlam com mão de ferro todo o sistema político 
norte-americano. A imprensa trata esse negócio evidentemente corrupto 
como algo natural e inerente à democracia. Claro, porque ela própria faz
 parte disso: se nem mesmo a americana cita os outros candidatos, é 
óbvio que suas sucursais brasileiras não irão noticiar as atividades dos
 pobres coitados que concorrem como parte (aqui sim!) dessa eleição de 
cartas marcadas.
Biden e Trump são idosos que já não conseguem articular bem as 
palavras e o atual presidente mal consegue controlar sua locomoção. 
Praticamente todos os dias ele comete alguma gafe vergonhosa que 
viraliza nas redes sociais, mas a imprensa finge que isso não acontece. A
 Folha de S.Paulo, contudo, se regozija em publicar uma matéria 
sensacionalista com o título “Maduro tenta mandar mensagem em inglês a 
Biden e vira alvo de piadas”, demonstrando seu capachismo e preconceito,
 como se Biden soubesse falar espanhol – aliás, os americanos são 
completamente ignorantes de outros idiomas e estão pouco se lixando para
 aprendê-los, mas a Folha acha que um presidente hispânico tem a 
obrigação de falar inglês.
Maduro e Putin são os responsáveis por criar “obstáculos para 
eleitores votarem”, como disse o Estadão, mas é nos Estados Unidos onde 
os cidadãos são, na prática, desincentivados a votar, pois o pleito 
ocorre em dia de trabalho normal e o trabalhador sequer tem tempo de 
acorrer às urnas – além de desconhecer os candidatos.
Os partidos democrata e republicano são apresentados como rivais, mas
 essa mesma imprensa não consegue esconder que nos assuntos que 
realmente importam eles sempre estão de mãos dadas e nenhum se opõe ao 
regime (esse sim, um regime no sentido de ser uma ditadura) americano, 
pois os dois são os representantes desse regime. 
Na Venezuela ou na Rússia os opositores pagos pelos EUA são 
falsamente retratados como combatentes da liberdade para retirar a elite
 corrupta do poder. Nos EUA, que é tão ditatorial que nem sequer existe 
essa oposição (de forma organizada), a oposição popular desorganizada 
não é considerada oposição pela imprensa. É como se o povo fosse a favor
 da “democracia” americana, e os que não o são merecem o desprezo como 
antidemocráticos e marginais.
Não se enganem: o que estamos lendo e ouvindo dos apresentadores, 
repórteres e comentaristas não é a verdade e nem mesmo uma opinião 
honesta. É pura propaganda muito bem articulada em uma rede 
monopolística para manter os súditos do império ignorantes da opressão 
que sofremos desse mesmo império. A imprensa capitalista não passa de um
 instrumento da burguesia para enganar o povo, e num país como o Brasil,
 praticamente colonizado pelos EUA, essa imprensa é porta-voz da 
metrópole contra os nossos interesses.
Author`s name Eduardo Vasco
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