domingo, 25 de maio de 2025

Revista Forum: Referência indígena, religiosa e geográfica: a história por trás dos nomes dos estados do Brasil

 

Raízes etimológicas estão diretamente conectadas ao período da colonização e derivam das línguas indígenas, do cristianismo e erros cartográficos de colonizadores

Mapa das regiões do Brasil.Créditos: Reprodução / IBGE / Montagem Revista Fórum
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Já parou para pensar por que os estados brasileiros têm os nomes que possuem? Esses nomes não foram escolhidos por acaso. Por trás de cada um há um história marcada pelas culturas indígenas, além de erros geográficos e o legado cristão de colonizadores portugueses. Hoje, o Brasil é formado por 26 estados e o Distrito Federal, todos com autonomia política e administrativa. 

Cada estado possui suas próprias leis e governo, compondo, em conjunto, a estrutura da República Federativa do Brasil, e as unidades são responsáveis por legislar e administrar dentro de seus territórios, sempre em conformidade com a Constituição nacional. Ao longo da história, o mapa do país passou por várias reformulações.

As divisões regionais mudaram diversas vezes, refletindo interesses políticos e econômicos de cada época. A configuração atual foi consolidada com a promulgação da Constituição de 1988, que redefiniu fronteiras e transformou antigos territórios federais em estados autônomos, como é o caso de Roraima, Amapá e Tocantins.

Nomes que contam a história do país

Muitos nomes dos estados brasileiros vêm de erros geográficos da colonização, da religião cristã, influência dos portugueses, e de palavras derivadas das línguas indígenas nativas brasileiras, que na origem etimológica dão o nome para mais da metade dos estados. Antes da colonização, o Brasil era lar de cerca de 3,5 milhões de indígenas, pertencentes a quatro distintas tradições linguístico-culturais: tupi, jê, aruaque e caraíba.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem atualmente 1,7 milhão de indígenas e mais da metade vive na Amazônia Legal, uma redução de 50% da população indígena em meio século. O genocídio dos povos indígenas no Brasil remonta à colonização portuguesa, especialmente com a implantação do cultivo da cana-de-açúcar na zona costeira e a proliferação de doenças. Leia mais aqui.


Mapa do Brasil. Reprodução/ IBGE

Veja o que significa o nome de cada estado

Acre (AC)

O nome vem do rio Acre, cuja origem é indígena — da palavra aquri, vocabulário do dialeto Ipurinã, usada por povos locais para designar um rio tortuoso. A grafia "Acre" surgiu da adaptação feita por exploradores ao transcreverem o termo indígena. É pertencente à língua nativa dos índigenas Apurinãs.

Alagoas (AL)

Deriva do plural de "lagoa", referência ao grande número de lagunas, lagoas e canais que marcam o litoral do estado. Há aproximadamente 30 lagoas distribuídas no território, sendo 17 na capital Maceió. A presença das lagoas e dos rios foi um fator importante para o desenvolvimento histórico da região na agricultura e na pesca.

Amapá (AP)

De origem tupi, amapá significa “a terra que acaba” ou “ilha”, e pode também estar ligada a uma árvore típica da região, a amapazeiro, típica da Amazônia, cujo tronco robusto libera um líquido branco — o chamado “leite Amapá” — utilizado popularmente como remédio para tuberculose e distúrbios digestivos.

Amazonas (AM)

Há duas hipóteses sobre a origem do nome do estado. A primeira associa a palavra a “amassuno”, expressão indígena que significa “ruído das águas” e que teria sido registrada pelo explorador espanhol Francisco Orelhana. Já a segunda versão indica que o nome teria vindo das guerreiras da mitologia grega conhecidas como amazonas. O nome vem do Rio Amazonas, batizado pelos colonizadores em referência às guerreiras da mitologia grega, por acreditarem ter enfrentado tribos lideradas por mulheres.

Bahia (BA)

Refere-se à Baía de Todos-os-Santos, a maior do Brasil, nomeada pelos portugueses em 1501. A palavra “baía” indica uma entrada do mar na costa.

Ceará (CE)

De origem tupi "siará", que significa “canto da jandaia”, o nome faz referência a um papagaio nativo do Brasil. Ceará também pode ser interpretado como “água clara”.

Espírito Santo (ES)

Recebeu esse nome em 1535, numa homenagem religiosa ao Espírito Santo, símbolo da fé católica dominante entre os colonizadores portugueses. Naquele ano, o fidalgo Vasco Coutinho desembarcou na atual Prainha de Vila Velha. Por se tratar da oitava de Pentecostes, período litúrgico entre Pentecostes e a celebração da Santíssima Trindade, o donatário escolheu o nome Espírito Santo para batizar a capitania.

Goiás (GO)

O nome vem da tribo indígena guaiás, com origem no termo tupi “gwaya”, que significa “indivíduo igual”, “pessoa semelhante” ou “da mesma raça”. A tribo habitava a região no final do século 16.

Maranhão (MA)

Pode ter origem indígena ou ser uma corruptela de “Mbarã-nhana” (que significa 'rio que corre'), nome dado por europeus a grandes rios da região. Há também quem relacione o nome ao rio Maranhã, em Portugal.

Mato Grosso (MT)

Nome descritivo, dado pelos colonizadores portugueses à região de vegetação densa, espessa e de mata fechada no interior do Brasil. O estado de Mato Grosso recebeu esse nome dos bandeirantes. A área de mata fechada se estendia por cerca de sete léguas e em 1979, com a divisão do território, surgiu o estado de Mato Grosso do Sul, que manteve a referência ao nome original.

Minas Gerais (MG)

Recebeu esse nome por concentrar diversas minas de ouro e pedras preciosas no século XVIII. “Gerais” indica a vastidão do território minerador.

Pará (PA)

Do tupi pa’ra, que significa “mar”. Era como os indígenas se referiam ao rio Amazonas, devido à sua grandeza e volume de água. A palavra que deu nome ao estado vem do tupi-guarani.

Paraíba (PB)

Nome de origem tupi que significa “rio ruim para navegar” ou “rio de águas difíceis”, em alusão à navegação complicada no rio Paraíba.

Paraná (PR)

Vem do tupi paranã, que significa “semelhante ao mar” ou “rio grande”, referindo-se ao importante rio Paraná.

Pernambuco (PE)

Origina-se do tupi paranã-puka, que significa “buraco no mar”, em referência aos arrecifes costeiros. O nome em língua tupi tem raíz etimológica nas palavras Pará, Paraná e Paraíba.

Piauí (PI)

O termo tem raízes na língua tupi-guarani e quer dizer "rio dos piaus". Ele é composto pelas palavras indígenas "piau" (peixes pintados) e "i" (água).

Rio de Janeiro (RJ)

Foi assim nomeado por portugueses que, ao chegarem à Baía de Guanabara em 1º de janeiro de 1502, pensaram estar na foz de um rio, incluindo o mês no nome.

Rio Grande do Norte (RN)

Recebeu esse nome devido ao grande estuário do rio Potengi. “Rio Grande” era uma forma comum de designar grandes cursos d’água.

Rio Grande do Sul (RS)

Tem origem semelhante à do estado do Norte, referindo-se ao “rio grande” que é a Lagoa dos Patos. O “do Sul” foi acrescentado para diferenciá-lo. O nome surgiu a partir de uma confusão geográfica. Um vilarejo foi usado como referência para a foz do rio Grande, mas o ponto indicado era, na verdade, a lagoa dos Patos.

Rondônia (RO)

Homenageia o Marechal Cândido Rondon, que tinha antepassados indígenas, e foi engenheiro militar e sertanista conhecido pela exploração na Bacia Amazônica.

Roraima (RR)

Do idioma dos povos indígenas locais, significa “serra verde” ou “monte de origem celestial”, referência ao Monte Roraima. A origem da palavra vem dos indígenas Ianomâni, que juntaram "roro" ou "rora" (verde) com "ímã" (serra ou monte).

Santa Catarina (SC)

Nome dado em homenagem a santa Catarina de Alexandria, conforme um registro do português Sebastião Caboto, datado em 1526.

São Paulo (SP)

Nome dado por padres jesuítas em referência ao apóstolo São Paulo, no dia de sua conversão (25 de janeiro), data da fundação da cidade.

Sergipe (SE)

De origem tupi, significa “rio dos siris”, nome de um rio na região que batizou o estado.

Tocantins (TO)

Do tupi tukanati, que significa “bico de tucano”. É também o nome de um rio que corta o estado. A palavra, na língua indígena, combina "tucã", que representa o tucano — uma ave típica do Brasil —, com "tins", que significa nariz.

Distrito Federal não é estado

Designado mais recententemente, o DF é localizado na Região Centro-Oeste, a menor região e o único que não é composto por municípios, mas por 35 regiões administrativas. Em 1823, José Bonifácio, conhecido como Patriarca da Independência, foi o primeiro a referir-se ao loca pelo nome Brasília e a defender a ideia da interiorização da capital. A região abriga Brasília, que hoje é uma cidade planejada, e onde se localiza a Praça dos Três Poderes, chamada assim por abrigar os três órgãos do Estado federal. 

Fonte: https://revistaforum.com.br/historia/2025/5/25/referncia-indigena-religiosa-geografica-historia-por-tras-dos-nomes-dos-estados-do-brasil-179996.html

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