No meu sertão quando está faltando inverno
É um inferno, secam logo os vegetais
A nossa vida se transforma em sacrifício
É um suplício para todos animais.
Se acaba o pasto, seca o rio, limpa a terra
O bode berra lamentando a sequidão
O rico passa, mas o pobre não resiste
Oh! quanto é triste quando há seca no sertão!
A fome ataca, a sede aperta, o gado morre
O povo corre, lá não quer ficar ninguém.
A passarada bata as asas e vai embora
A caipora se destina e vai também.
Os retirantes levam sol pelas estradas
Casas fechadas, fica grande a solidão
Ramas nas árvores, não há vivo que aviste
Oh! Quanto é triste quando há seca no Sertão!
Eliseu Ventania
Cruz. Após três anos consecutivos de poucas chuvas, no Município de Cruz, a situação é desoladora, como muito bem retrata a seca nordestina, o poeta potiguar Eliseu Ventania. Os efeitos estão por toda parte. Das 13 lagoas do município, apenas 3 ainda contém um pouco de água, sendo o Açude da Prata, Lagoa de Jijoca e Lagoa dos Monteiros, os únicos reservatórios que ainda tem um pouco de água, mas o fim das reservas está bem próximo.
Lagoa do Mato - Cruz
O Açude da Prata, que fica na CE – 085, atingiu o nível mais baixo desde quando foi construído, na década de 50, do século passado. Os troncos de carnaubeira estão descobertos e a água limita-se ao canal do riacho. A lagoa de Jijoca, o maior reservatório natural do Estado do Ceará, citada no livro Iracema de José de Alencar, atingiu um do mais baixo nível de água de sua história. A Lagoa dos Monteiros, se não receber água nos próximos dias,
logo, também estará seca.
Açude da Prata – CE - 085
O lençol freático está muito baixo, as cacimbas estão secando e algumas famílias já estão se mudando por falta de água.
Na tentativa de superar esta dificuldade, carros pipas do Governo e da Prefeitura percorrem a zona rural lavando água às famílias que estão sem fonte de água em suas comunidades.
Coqueiros da Praia do Preá
O Programa Água para Todos do Governo Federal está implantando sistema de abastecimento em oito comunidades rurais, em parceria com a Prefeitura e o Governo do Estado. Serão 344 famílias contempladas nas comunidades de Formosa, Cedro, Jenipapeiro, São Francisco, Porteiras, Lagoa de Baixo, Lagoa Velha e Córrego das Panelas. Os trabalhos já foram iniciados, mas o desespero das famílias é grande devido as dificuldades que passam com a falta de água para atender as necessidades domésticas e dessedentar os animais. Além das cacimbas estarem muito funda, a água é de qualidade ruim e quando fazem escavação, o lençol freático baixa rapidamente, exigindo que outras escavações sejam feitas. Quem habita próximo do litoral, está perfurando poços para superar a falta de água, mas a R$ 200,00 o metro do poço, nem todas as famílias tem condição financeira para perfurar um poço de 20 metros, pois o lençol d’água está a 10 metros de profundidade podendo chegar a mais de 20 metros em locais mais distantes da praia. A solução é esperar pela providencia Divina.
Até o momento, na Praia do Preá, foram registrados 3mm de chuvas este ano.
Os coqueiros não resistem a falta de água e morrem.
Coqueiros do Tope-Acaraú
Os coqueirais do município estão sendo dizimados. Por onde se passa, avista-se coqueiros morrendo por falta de água. Há propriedade que já perdeu todos os seus coqueiros. A região mais afetada é a litorânea, onde a água era mais superficial. A morte não se restringe somente aos coqueiros, outras árvores também sofrem com a falta de água.
Os cajueiros também estão sendo afetados com a falta de água. As folhas estão grossas, amareladas e com a brotação queimada.
Os sistemas de abastecimento de água da zona rural já não atendem mais as exigências das famílias. As bombas funcionam 24 horas, mas não conseguem levar água aos locais mais distantes da caixa.
Na comunidade da Praia do Preá, a falta de competência da administração do sistema, aliada a prática de corrupção, tem deixado os consumidores em aflição com as constantes interrupções no fornecimento de água. Durante 25 anos de existência do sistema nunca adotaram uma medida para assegurar o fornecimento de água para a população de forma regular. Um único poço só tem condições de atender a 25% da necessidade da comunidade. Grande quantidade da água está sendo usada para construções, irrigação de coqueiros, postos de lavagem e encher piscinas.
Na cidade de Cruz, o sistema trabalha com sua capacidade máxima. Caso não chova logo, terão que ser perfurados novos poços ou haverá racionamento, com fornecimento de água em dias alternados.
Mesmo com toda esta dificuldade, as pessoas inda não entenderam a real necessidade de economizar água, pois os banhos são demorados, carros e calçadas são lavadas com água potável, além dos vazamentos que são muito frequentes nas redes de distribuição de água na sede e zona rural.
Métodos para armazenar e economizar água é o que não falta. O que está faltando é consciência por parte da maioria dos consumidores que ainda adotam o lema: se estou pagando, posso usar da forma que bem entender, mesmo que alguém esteja sendo prejudicada.
Dr. Lima