Pesquisa foi feita durante quatro semanas com consumo de óleo de coco, azeite e manteiga e apresentou resultados surpreendentes nos níveis de colesterol bom e ruim dos voluntários.
BBC BRASIL.com
9 JAN2018
15h15
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O óleo de coco está definitivamente na moda e suas vendas estão bombando, impulsionadas por recomendações de celebridades da culinária e pela fama de supostamente ter poder de curar tudo, desde mau hálito até distúrbios digestivos.
Michael Mosley, do programa "Trust me, I'm a doctor", investiga os efeitos do óleo de coco sobre o colesterol
Foto: BBCBrasil.com
A atriz Angelina Jolie toma uma colher de sopa dele no café da manhã todos os dias, enquanto a modelo Miranda Kerr costuma dizer que o utiliza na salada, em tudo o que cozinha e para espalhar na pele também.
Mas os rumores dos benefícios à saúde do óleo de coco são tratados com bastante ceticismo pelos cientistas.
Na comunidade científica, ele é visto, aliás, como uma gordura nada saudável. Tem níveis de gorduras saturadas altíssimos (86%), ainda maiores que os da manteiga (51%) ou da banha de porco (39%).
A razão pela qual os alimentos ricos em gorduras saturadas são mal interpretados é porque comê-los causa um aumento nos níveis sanguíneos de LDL (lipoproteína de baixa densidade).
O LDL é conhecido como "colesterol ruim", porque altos níveis dele estão relacionados com aumento do risco de doenças cardíacas. Por outro lado, as gorduras saturadas - que tecnicamente são ruins para você - também têm tendência em aumentar o HDL, que é o chamado "colesterol bom" e que tem o efeito oposto. Sendo assim, é possível que uma comida específica aumente os níveis totais de colesterol e, ainda assim, seja boa para o coração.
Colesterol
Então, o óleo de coco seria maravilhoso para o colesterol, como alguns afirmam, ou extremamente perigoso, como outros clamam?
Apesar de todo o barulho que se faz em torno desse alimento, há poucos estudos com humanos realizados para comprovar essas questões específicas de saúde.
Assim, para a série Trust Me, I'm a Doctor , a BBC resolveu organizar um teste, que começou com as professoras Kay-Tee Khaw e Nita Forouhi, ambas da Universidade de Cambridge.
Com a ajuda delas, foram recrutados 94 voluntários que tinham entre 50 e 75 anos e nenhum histórico de diabetes ou doenças cardíacas. Um estudo foi pensado para entender quais efeitos o consumo de diferentes tipos de gordura teria nos níveis de colesterol deles.
Foram criados três grupos distintos de maneira aleatória. Todos os dias, durante quatro semanas, o primeiro grupo teria que consumir 50 gramas de óleo de coco extra-virgem - isso seria cerca de três colheres de sopa.
O segundo grupo tinha que consumir a mesma quantidade de azeite extra-virgem.
O azeite é um elemento-chave da dieta mediterrânea e é conhecido por ser bastante saudável.
O terceiro grupo teria que consumir 50 gramas de manteiga sem sal por dia. Isso seria um pouco mais do que três colheres de sopa.
O óleo de coco é rico em gorduras saturadas
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
Os voluntários poderiam consumir esse tipo de gordura da maneira que melhor desejassem, mas teriam que fazer isso todos os dias pelas quatro semanas consecutivas.
Eles também foram avisados que poderiam ganhar peso nesse tempo, já que estariam consumindo 450 calorias a mais por dia.
Antes do experimento começar, foram feitos exames de sangue com todos os voluntários para pegar os números de cada um, focando principalmente nos níveis de LDL (o colesterol ruim) e HDL (o colesterol bom).
A importância dessas duas medidas é que o risco de um ataque cardíaco é melhor calculado olhando não para o nível total de colesterol, mas para ele dividido em LDL e HDL. Segundo o sistema de saúde britânico, esse número deve ficar abaixo de quatro.
Resultado
Conforme era esperado, as pessoas que comeram a manteiga viram sua média de LDL aumentar quase 10%, enquanto a média de aumento do HDL foi de 5%.
Aqueles que consumiram azeite tiveram uma pequena redução, pouco significante, no nível de LDL, e um aumento de 5% no nível de HDL. Ou seja, o azeite correspondeu à fama de "saudável" para o coração.
Mas a maior surpresa veio justamente dos que consumiram óleo de coco. Não só eles não apresentaram nenhum aumento nos níveis de LDL, como era esperado, como também tiveram um aumento enorme no HDL, o colesterol bom, que apresentou níveis 15% maiores do que antes.
Dessa forma, esse resultado sugere que pessoas consumindo óleo de coco tinham realmente reduzido o risco de desenvolverem uma doença do coração ou de terem um AVC.
Conclusão
Khaw ficou particularmente surpresa com os resultados e não soube explicar exatamente por que eles teriam acontecido.
"Talvez seja porque a principal gordura saturada de óleo de coco é o ácido láurico, e o ácido láurico pode ter diferentes impactos biológicos sobre os lipídios sanguíneos para outros ácidos graxos. A evidência disso vem principalmente de animais, então foi fascinante ver esse efeito em seres humanos".
Sendo assim, podemos considerar o óleo de coco uma comida saudável?
"Acho que a decisão de comer um óleo específico vai além de apenas os efeitos dele na saúde", afirmou.
"Esse é apenas um estudo e seria irresponsável sugerir que todos mudassem suas dietas baseados apenas nele, mesmo que tenha sido bem conduzido."
Este foi um estudo de muito curto prazo e, comparado ao azeite, a pesquisa sobre o óleo de coco ainda está em estágio inicial.
Sendo assim, esse "oba-oba" sobre o óleo de coco ser um alimento super saudável ainda é um pouco prematuro.
Mas se você já gosta de consumi-lo, não parece haver motivos convincentes para parar.
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