Pela 1ª vez, número de crianças e jovens com ansiedade supera o de adultos no Brasil
Com base nos dados da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS, os registros de ansiedade entre crianças e jovens superam, pela primeira vez, os de adultos, segundo um levantamento da Folha de S. Paulo. Os dados compreendem o período de 2013 a 2023 e apontam um crescimento alarmante dos transtornos de saúde mental entre os mais jovens.
Em 2023, a taxa de pacientes entre 10 a 14 anos atendidos pelo SUS por transtornos de ansiedade atingiu 125,8 a cada 100 mil, enquanto para adolescentes de 15 a 19 anos, a taxa foi de 157 a cada 100 mil. Comparativamente, entre adultos com mais de 20 anos, a taxa foi de 112,5 a cada 100 mil. Essa inversão, onde os jovens ultrapassam os adultos nos índices de ansiedade, ficaram ainda mais crítica a partir de 2022.
Especialistas apontam várias causas para esse aumento, incluindo crises econômicas, mudanças climáticas, autodiagnósticos simplistas e o uso excessivo de celulares e jogos. “Estudos diversos e rigorosos mostram uma piora na depressão e na ansiedade, e a pandemia se mostrou muito pior do que os estudos previam”, comentou Guilherme Polanczyk, psiquiatra da infância e adolescência e professor da Faculdade de Medicina da USP em entrevista à Folha.
Polanczyk também destacou que as mudanças culturais e sociais da última década, especialmente associadas às redes sociais, têm impacto significativo, mas alerta contra a simplificação excessiva do problema. “É perigoso atribuir o problema só às redes sociais”.
Entre 2000 e 2021, houve um aumento de 221% nos casos de suicídio entre meninas de 10 a 14 anos, contra um aumento de 170% entre os meninos. A Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE indica que a incidência de depressão cresceu significativamente entre todas as faixas etárias entre 2013 e 2019, com um aumento de 152,5% entre jovens de 18 a 21 anos e 30,2% entre adultos com 22 anos ou mais.
Karen Scavacini, fundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, destaca que as meninas são particularmente vulneráveis ao impacto das redes sociais. “Meninas vão sofrer um efeito maior, especialmente se estiverem consumindo conteúdos que mexem com a autoestima delas, com a questão corporal, ou se passam por violências dentro das redes sociais”, disse à Folha.
Scavacini também observa que o uso de mídias sociais sem orientação pode estar relacionado a comportamentos de autoagressão, sintomas depressivos e de ansiedade, estresse, baixa satisfação com a vida e baixa autoestima. “A forma de uso e a relação desse jovem com a tecnologia é diferente da nossa. Eles precisam dessa sociabilização, e essa sociabilização tem acontecido muito pelas redes. Mas, infelizmente, eles ainda não sabem lidar com o que acontece lá dentro”, afirmou.
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