© Foto / Marcelo Camargo/Agência Brasil
Em um marco significativo para as relações bilaterais entre Brasil e China, um acordo sobre vistos de turismo e negócios foi formalmente assinado, ampliando a validade desses documentos de cinco para dez anos. A ação foi oficializada durante encontro entre os chanceleres dos dois países nesta sexta (19), em Brasília.
Esse desenvolvimento foi destacado pelo cientista político Rodolfo Marques, que enfatizou a importância da extensão do período de validade dos vistos como um ponto crucial nas relações bilaterais.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, recebeu seu homólogo chinês, Wang Yi, em Brasília, no contexto da quarta edição do Diálogo Estratégico Global, primeira reunião do mecanismo entre os dois países desde 2019.
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Fortalecimento de relações
À Sputnik Brasil, o doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor na Universidade da Amazônia (Unama) Rodolfo Marques destacou que a mudança não apenas simplificará os processos burocráticos, mas também promoverá um impulso nas possibilidades de turismo e negócios entre os dois países. Ele salientou que só em 2023, quase 40 mil chineses visitaram o Brasil, sublinhando a crescente interação econômica entre as nações.
“Essa ampliação do período de validade dos vistos é um ponto importante para fortalecer as relações entre os dois países”, explica o especialista.
Marques ressaltou que a extensão dos vistos é uma estratégia para fortalecer as relações, especialmente após as tensões durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Essas negociações bilaterais são importantes. Durante o governo Jair Bolsonaro, foram criadas muitas barreiras e fortalecidos muitos ruídos entre o governo brasileiro, entre o Itamaraty, e, posteriormente, em relação ao governo chinês, o governo daquele país asiático. E, agora, o governo Lula tenta reforçar as relações e, ao fomentar o fluxo entre brasileiros e chineses nos dois países, acaba sendo um ponto importante para impactar diplomaticamente e comercialmente as nações”, sublinha.
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Durante a reunião, os ministros trataram de questões econômico-comerciais, de segurança na Faixa de Gaza e na Ucrânia, sobre as mudanças do clima e a facilitação do trânsito de pessoas. “A China é o maior parceiro comercial do Brasil, destino de 30% das exportações brasileiras e grande investidor no país”, destacou o Itamaraty.
Também foi lançado o logotipo elaborado conjuntamente para celebrar a comemoração dos 50 anos das relações diplomáticas sino-brasileiras.
“Lançamos o símbolo do aniversário de 50 anos das relações diplomáticas, que será comemorado em 15 de agosto. Esse importante marco ensejará uma série de eventos políticos, acadêmicos e culturais, promovidos conjuntamente por China e Brasil ao longo de 2024″, declarou Vieira.
Parceria comercial em ascensão
Diego Pautasso, doutor em Ciência Política pela UFRGS, reforçou a importância da China como parceira comercial desde 2009, representando quase um terço das exportações brasileiras. Ele destacou que a facilitação burocrática, incluindo a tramitação online e a flexibilidade nos prazos, é crucial para viagens, estudos e negócios, contribuindo para o fortalecimento das relações bilaterais.
“Seja para viagem, seja para estudos, seja para negócios, seja a tramitação desburocratizada on-line, sem precisar recorrer aos grandes centros, tudo isso são facilitadores, assim como uma maior flexibilidade dos prazos, tendo em vista que o potencial das relações do Brasil com a China é de aumento”, reverbera.
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Ele sinalizou, ainda, que com a flexibilidade proporcionada pelos vistos estendidos, espera-se que cidadãos de ambos os países possam participar mais ativamente de eventos, negócios e intercâmbios, consolidando ainda mais os laços sino-brasileiros.
Brasil retoma uma nova era de ‘boa vizinhança’
O analista Rodolfo Marques conclui que, embora distante geograficamente, “o Brasil retoma uma nova era de boa vizinhança e de boas relações entre os dois países”.
“O Brasil tenta restaurar esta nova etapa, criar uma nova era de relações entre os dois países […] relações essas que ficaram muito danificadas durante o governo Bolsonaro aqui no Brasil”, finaliza.
Laços estratégicos para além dos vistos
Marcela Franzoni, professora de relações internacionais e pesquisadora, destaca a relevância econômica como o cerne para o governo brasileiro no acordo com a China. Ela ressalta a tentativa de ampliar relações após um período conflitivo, citando a visita calorosa de Lula à China no ano passado. Franzoni destaca que a China é a maior parceira comercial do Brasil, líder em investimentos estrangeiros e fundamental para o superávit do comércio exterior.
“Dentre as áreas prioritárias, a gente pode destacar a questão do comércio da agricultura, da questão agrícola. Mineração e a inovação, principalmente no setor aeroespacial, que é uma temática importante, que já tem uma cooperação histórica com a China, mas também do ponto de vista dos carros elétricos, que estão chegando bastante forte aqui no Brasil com investimentos chineses”, detalha.
Além dos aspectos econômicos, Franzoni ressalta a importância do apoio chinês nas reformas institucionais multilaterais, incluindo a histórica demanda brasileira pela reforma do Conselho de Segurança da ONU. O Brasil busca o suporte chinês em temas como cooperação para o desenvolvimento, combate à pobreza, desigualdade e questões ambientais, visando ocupar espaço na presidência do G20 e contando com o respaldo chinês para as demandas políticas brasileiras.
“O grande desafio para o Brasil dentro desse cenário é aproveitar as relações com a China de um ponto de vista em que a gente consiga diversificar as relações dentro da questão econômica. Ou seja, nossa pauta para a China ainda é uma pauta muito primarizada, voltado para produtos de baixa intensidade tecnológica ou mesmo produtos vinculados à agropecuária”, sugere.
Reunião a portas fechadas com Lula
Após o encontro com o chanceler Mauro Vieira, o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, se encontrou com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, em uma base da Força Aérea Brasileira em Fortaleza, no Ceará. A reunião foi a portas fechadas e não foram divulgados detalhes sobre a conversa entre os dois.
Encerrada a visita de dois dias ao Brasil, Wang Yi se dirige, agora, para a Jamaica, no Caribe.
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